Nelson Tucci
Desde a última sexta, 15, existe aumento do ICMS no estado de São Paulo. Para os automóveis, por exemplo, houve um salto de 207% na cobrança do tributo nas negociações de usados, com majoração da alíquota de 1,8% para 5,3%, e de 12% para 13,3% no caso de modelos zero km. Em abril a tributação cairá a 3,9% para os usados e se elevará a 14,5% para novos.
Entidades
que reúnem fabricantes e distribuidores de veículos se uniram para protestar e
pressionar o governo paulista contra o aumento do imposto. Em entrevista
online, junto à imprensa especializada, dia 13 último, dirigentes das
principais associações do setor alertaram que a medida irá inviabilizar os
negócios de muitos concessionários e revendedores, provocando o fechamento de
lojas, demissões e elevação da informalidade para driblar a elevação da carga
tributária em São Paulo.
E
para não ficar apenas no protesto, os presidentes das associações de
revendedores independentes e concessionárias oficiais disseram que negociam a
revogação do aumento do ICMS com o governo paulista, mas não descartam a
judicialização do tema caso a majoração seja mantida.
IMPACTO – Segundo as entidades, “a representatividade de São Paulo é enorme para os negócios do setor”, uma vez que o estado representa 40% das vendas de veículos usados no país e 25% dos novos. Nas concessionárias, entre 40% e 50% das compras de novos são feitas com o carro usado vinculado como entrada. A elevação do ICMS sobre ambos reduzirá a avaliação do bem e aumentará o preço do novo, reduzindo o poder de compra dos clientes. Assim, o aumento de imposto pode ter alto impacto negativo em toda a cadeia de distribuição.
A
Fenabrave, associação da rede de distribuição ligada aos fabricantes, diz que
as 1,7 mil concessionárias no estado já demitiram 42 mil empregados no ano passado
e agora os 71 mil funcionários remanescentes voltam a ficar ameaçados pelo
aumento do ICMS. Já a Fenauto, que reúne os revendedores de usados, lembra que
o segmento tem 12,5 mil lojas em São Paulo que empregam 300 mil trabalhadores.
“Esse aumento de 207% simplesmente inviabiliza muitas empresas do setor e é
possível que de 40 mil a 50 mil pessoas sejam demitidas. Também vai impactar
nas oficinas que revisam e reparam os carros para que possamos dar garantia de
90 dias”, avisa Ilídio dos Santos, presidente da entidade.
Álvaro
de Faria, presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de
Veículos no Estado de São Paulo (Sincodiv-SP), informou que a entidade já
agendou reunião com advogados para avaliar possíveis ações judiciais contra o
aumento do imposto, caso o governo paulista não recue. Fenabrave e Fenauto
prometem fazer o mesmo. Assumpção Jr. lembrou que o setor de distribuição e
fabricantes estão todos unido em torno do tema, incluindo a Anfavea, que não
participou da entrevista mas já tinha criticado duramente a elevação do tributo
na semana passada.
DECEPÇÃO – Os decretos sobre ICMS publicados na sexta-feira “são uma decepção para todos os contribuintes do estado”. Pressionado pela ameaça de protestos, o governador João Doria havia se comprometido publicamente a rever a alta generalizada de impostos. Chegou a dizer que não permitiria que a "população mais vulnerável" fosse penalizada com o aumento da carga tributária.
“Infelizmente,
o que o governador Doria fala, não se escreve. Os três decretos publicados são
um tímido recuo diante da ruinosa tragédia fiscal que o governo Doria quer
colocar em prática”, diz, em nota, a Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp).
As
operações de venda de insumos agrícolas, por exemplo, tiveram suspenso o
aumento de alíquotas, mas apenas para vendas dentro do estado. Nas vendas das
empresas paulistas para todas as outras 26 unidades da federação, a alta de
impostos segue valendo – “o que gera problemas óbvios de competitividade”,
prossegue a federação, concluindo: “Para algumas operações, como venda de carne
bovina e eletrônicos, o aumento do tributo permanece, mas há uma previsão de
redução do aumento para o dia 1º de abril, popularmente conhecido no Brasil
como o dia da mentira. Piada pronta”. A Fiesp anunciou que lutará na Justiça
para reverter os aumentos de tributos de todos os setores atingidos.
PÉSSIMAS – A Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco) entende que o fechamento das fábricas da Ford no Brasil – largamente anunciada na semana que passou, pela imprensa nacional e internacional – “resulta da sequência de péssimas decisões tomadas nos últimos anos, entre elas o descaso com mudanças significativas no sistema tributário”. Com graves problemas de natureza fiscal no país, o sistema tributário diminui o apetite dos investidores estrangeiros. Segundo a Fenafisco, a agenda de medidas adotada neste governo para a retoma do crescimento se mostra ineficaz.
Com
o fechamento das fábricas no Brasil, a Ford vai concentrar seus investimentos
no México e na Argentina. “Outras companhias podem seguir o mesmo caminho e
abandonar o país caso não haja uma reforma tributária efetiva, indo além da
simples unificação de tributos e focando na redução de desigualdades e na
implementação da capacidade contributiva no recolhimento de impostos. Em breve,
diversos estados podem ter que arcar com quedas na arrecadação de impostos
causados pelo desinvestimento de indústrias e empresas”, acentua a entidade, em
nota.
MP – Para acompanhar os impactos socioeconômicos e concorrenciais do fechamento de fábricas de automóveis no país, a Câmara de Consumidor e Ordem Econômica do Ministério Público Federal (3CCR/MPF) instaurou procedimento administrativo. A medida foi tomada após a Ford anunciar o fechamento de fábricas no Brasil, encerrando a produção de veículos.
O
subprocurador-geral da República Luiz Augusto Santos acredita que o fim das
atividades de fabricação de veículos no país “pode gerar prejuízos ao setor
industrial, com impactos capazes de provocar a redução dos níveis de renda e
emprego nacionais, afetando negativamente a economia”. O procedimento
administrativo tem objetivo de coletar, sistematizar e tratar os dados ou
informações técnico-jurídicas voltadas a subsidiar eventuais medidas no âmbito
do MPF.
DIGITAL – Implantado na primeira semana do ano pelo Detran.SP, o CRLV-e (Certificado de Registro e Licenciamento de Veículos) já foi baixado por 1.137.914 proprietários de veículos no estado de São Paulo. Os dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) são referentes ao período de 04 a 13 de janeiro deste ano.
O
CRLV-e pode ser utilizado de forma eletrônica ou impresso em papel A4 comum, e
reúne em um único documento dados de propriedade e do licenciamento do veículo.
A novidade traz mais agilidade ao processo, não sendo mais necessário que o
proprietário aguarde a impressão e a entrega do documento físico pelos
Correios.
Assim,
dados sobre a propriedade e sobre o licenciamento do veículo ficarão reunidos
no CRLV-e. A mudança foi definida na Resolução 809/2020, do Contran. Em caso de
fiscalização de trânsito, o motorista poderá apresentar o CRLV-e na versão
digital, via aplicativo, ou, se preferir, poderá imprimir o documento em papel
A4. Não há a obrigatoriedade do porte da versão impressa.
FUSÃO – Em comemoração ao dia do IPO (abertura de capital na Bolsa) da Stellantis – empresa formada a partir da fusão da FCA e do Groupe PSA –, John Elkann, presidente, e Carlos Tavares, CEO da Stellantis, tocarão o tradicional sino de abertura das três Bolsas de Valores onde as ações do novo grupo serão listadas.
As
ações da Stellantis devem começar a ser negociadas na Euronext de Paris e na
Borsa Italiana de Milão nesta segunda-feira, 18, bem como na Bolsa de Valores
de Nova York (NYSE) na terça, 19. A NYSE estará fechada na segunda-feira, 18 de
janeiro, em comemoração ao feriado de Martin Luther King Jr.
QUEDA – As 15 marcas filiadas à Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), com licenciamento de 59.067 unidades – das quais 27.421 importadas e 31.646 veículos de produção nacional –, anotaram em 2020 queda de 12,7% ante igual período de 2019, quando foram comercializadas 67.686 unidades.
De
forma separada, a importação das 27.421 unidades vendidas significaram redução
de 20,7% ante as 34.596 unidades do acumulado de 2019; enquanto na produção
nacional – com 31.646 unidades – a queda foi de apenas 4,4% ante as 33.090
unidades de 2019. Pela primeira vez, a produção nacional das associadas à
Abeifa superou a totalização de veículos importados, que tiveram impacto
negativo e direto da taxa cambial, cuja cotação do dólar partiu de, na média
mensal, R$ 4,15 em janeiro para R$ 5,14 em dezembro de 2020, registrando alta
de 23,8%.
“Foi
um ano extremamente difícil para o setor automobilístico brasileiro, que
vislumbrava a retomada no início de 2020. Mas, como em todas as demais
atividades econômicas, o impacto da pandemia de Covid-19 a partir da segunda
quinzena de março foi devastador. Aliado a essa nova realidade, o nosso setor
ainda sentiu as consequências nefastas da desvalorização cambial. De todo modo,
os emplacamentos de nossas associadas – queda de 12,7% – foram menos impactados
do que o total do mercado interno, cuja redução foi de 26,6%”, analisa João
Henrique Oliveira, presidente da Abeifa.
ELÉTRICOS – No ano em que completou 25 anos de presença no Brasil, o BMW Group manteve a dianteira nas vendas de automóveis e motocicletas premium. Os emplacamentos de automóveis eletrificados BMW, BMWi e Mini, com propulsão híbrida ou elétrica, cresceu acima de 300% em 2020 quando comparada com o ano anterior. A liderança no segmento foi igual em motocicletas, com recorde histórico em vendas no país.
"Em
um ano desafiador como 2020, continuamos líderes no mercado premium de
automóveis e motocicletas por nosso protagonismo digital, por lançarmos e
desenvolvermos novas tecnologias e pelo empenho de nossa equipe, rede de
concessionários e confiança dos clientes", destaca Aksel Krieger, CEO e presidente
do BMW Group Brasil: "Fechamos 2020 com um em cada três automóveis premium
vendidos no Brasil sendo BMW e registramos recordes históricos na venda de
modelos eletrificados e também na BMW Motorrad".
Nesse
ano a marca licenciou 12.437 automóveis, de acordo com a Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). São destaque os modelos Série 3
e X1, responsáveis por aproximadamente 70% das vendas no país. A Mini registrou
1.275 emplacamentos. O BMW Group Brasil finalizou o ano de 2020 com 13.712
unidades emplacadas nacionalmente.
PNEUS – As vendas totais da indústria brasileira de pneus fecharam o ano de 2020 com baixa 12,9% em comparação com o ano anterior. O recuo no acumulado do ano foi observado nas vendas de todos os segmentos: pneus de passeio (-19,2%), comerciais leves (-13%), carga (-1,8%) e moto (-1,2%).
Mesmo
apresentando sucessivos meses de boas vendas, incluindo um mês de dezembro 9,5%
maior em 2020 do que foi em 2019, o setor não conseguiu reverter as perdas dos
meses de grande baixa.
“Em
um ano totalmente único, com suspensão de produção por um período determinado e
de amplas medidas de prevenção em relação a Covid-19 que ainda permanecem, a
indústria de pneumáticos no Brasil respondeu prontamente as necessidades de
todos os mercados, inclusive com crescimento no fornecimento do equipamento
original”, analisa Klaus Curt Müller, presidente executivo da Associação Nacional
da Indústria de Pneumáticos (ANIP).
Fundada
em 1960, a ANIP representa a indústria de pneus e câmaras de ar instalada no
Brasil, que compreende 12 empresas e 20 fábricas instaladas no Brasil.
EXPORTAÇÃO – A Asperbras Veículos encerrou 2020 com a conclusão de mais uma etapa do Projeto de Transporte Urbano Regular de Passageiros, realizado em parceria com o governo angolano. A empresa despachou, em dezembro último, 157 novos ônibus que integrarão as frotas nas diversas províncias de Angola.
A
iniciativa completa um ano de operações e tem como objetivo oferecer transporte
de qualidade às comunidades do país lusófono. Os novos ônibus saem equipados
com barreiras de proteção BioSafe para motorista e cobrador, instaladas para auxiliar
no combate à pandemia da Covid-19.
“O
ano de 2020 foi desafiador em vários sentidos. Por isso, a entrega dos ônibus
em Angola é motivo de orgulho para toda a equipe envolvida”, afirma Geraldo
Kulaif, diretor da Asperbras Veículos. Além do fornecimento dos veículos, a
companhia vem coordenando o mapeamento e definição das principais rotas
operacionais e a seleção de paradas, garantindo acesso aos principais centros
comerciais, administrativos e residenciais nas cidades. O trabalho é realizado
em parceria com o governo de Angola e especialistas em tecnologia e mobilidade.
RECALL – A Kawasaki Motores do Brasil convoca os proprietários das motocicletas Ninja 400 e Z400, modelo 2020 fabricadas em outubro de 2019, com números de chassi abaixo, a agendar uma visita a uma das concessionárias autorizadas Kawasaki para substituição do tensor da corrente de comando.
.
Z400, 96PERSD1*LFS01781 até 96PERSD1*LFS01980
.
Ninja 400, 96PEXSG1*LFS01721 até 96PEXSG1*LFS01800
Nas
unidades afetadas, devido ao tratamento térmico do tensor da corrente de
comando, pode ocorrer desgaste anormal no tensor, o que acarretará uma folga
excessiva na corrente causando a falta de sincronia do motor levando o mesmo a
apagar. Caso isso aconteça, existe uma remota possibilidade de acidentes com
possíveis lesões corporais ou fatais.
Os
agendamentos estão disponíveis desde o dia 15 e o tempo estimado para a
realização do reparo gratuito é de aproximadamente 90 minutos. Para mais
informações, ligue 0800.773.1210, das 9 às 17 horas.
AMÉRICA – A Dana anuncia a contratação de Marcelo Rosa para o cargo de gerente sênior de vendas ao mercado de reposição para a América do Sul. O executivo, que já tinha passagem pela empresa, retorna à Dana para dar andamento a um novo ciclo de crescimento e inovação no Aftermarket.
ARTIGO
Cybersegurança e repaginação
Por Augusto Schmoisman (*)
O encerramento da produção da Ford no país é um alerta para muitas empresas quanto à necessidade da adaptação e investimento nas mudanças tecnológicas, assunto que não é abordado com a importância que deveria no mundo corporativo. Em seu comunicado oficial, a própria montadora afirmou que o motivo desta reestruturação é o processo de mudança que a indústria automotiva tem vivido, impulsionado por novas e emergentes tecnologias em serviços conectados, eletrificação e veículos autônomos. Ou seja, de acordo com o novo cenário, está se repaginando.
Esse
movimento estratégico rumo à transformação digital tem causado agitação no
setor. Esta semana, a GM anunciou que investirá R$ 10 bilhões em inovação para
a fabricação de veículos no Brasil, com wi-fi e assistente virtual, além de
apresentar um projeto de um carro voador com o táxi aéreo autônomo. A Hyundai
elevou a cotação de suas ações em quase 20% após anunciar que está em
negociação com empresas para a produção de um modelo elétrico.
Enquanto
isso, empresas líderes do mundo tecnológico, como Apple, Google e Amazon, são
apenas alguns exemplos de companhias de tecnologia que também estão entrando no
segmento automotivo. Todas enfrentarão ainda o potencial da Tesla Motors, que
tem mostrado superioridade tecnológica no segmento de carros elétricos. O tempo
dirá se o avanço das montadoras será suficiente para brigar com essas gigantes
da tecnologia.
É
interessante destacar que ao mesmo tempo em que Ford e Mercedes estão se
organizando para dar um passo atrás em algumas operações, Elon Musk com sua
companhia de carros tecnológicos se posiciona como o homem mais rico do mundo,
com um modelo de negócios sob uma ótica diferente.
Essa
situação é apenas "a ponta de um iceberg" que deverá impactar
diversos tipos de negócio e que revela o quanto o futuro das empresas está em
risco, caso não busquem se estruturar para acompanhar o avanço de novas
tecnologias e acreditar na autonomia. A competição pela liderança tecnológica
se tornará uma ameaça não somente no setor automotivo, mas em toda cadeia
empresarial. Grandes empresas, sejam elas nacionais ou internacionais, que
estejam num cenário estagnado com uma falta crônica de recursos destinados ao
desenvolvimento tecnológico, estão fadadas a perder lugar para a concorrência.
A mudança referente à inovação contínua precisa ser levada a sério e colocada
em prática, pois definirá as vencedoras.
Entendemos
que os desafios são grandes, tornando necessário que líderes criem modelos de
negócios diferentes e mais ágeis, além de planos estratégicos. E nessa busca
por inovação e revolução tecnológica, a cybersegurança não pode ser esquecida,
subestimar ataques cibernéticos é um grande erro. É importante compreender que
não existe segurança 100% eficaz, sempre surgirão novos métodos e é preciso
estar em alerta neste terreno tão dinâmico. E lembrar que se há diretores de
empresas que não estão enxergando e dando a devida importância ao cuidado com a
informação, há outros processando, analisando e estudando. E esses,
provavelmente líderes de companhias digitais, podem ser grandes concorrentes de
negócios nos mais diversos segmentos, inclusive no automotivo.
A
mudança e o avanço tecnológico são inevitáveis, crescer é opcional.
(*) Augusto Schmoisman é
especialista em defesa cibernética corporativa, militar, aeroespacial e CEO da
Citadel Brasil.
Nelson Tucci é editor de Veículos & Negócios, do Jornal PERSPECTIVA.
Leia também no site www.jornalperspectiva.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário